A elaboração de um projeto deve ser uma etapa fundamental no desenvolvimento de qualquer negócio nos ramos da arquitetura e da engenharia. Seja qual for o tipo de empreendimento ou ação que se deseje realizar – residencial, comercial, industrial, infraestrutura, reformas, restaurações, não se deve começar de imediato executando o que vem à cabeça pelas ideias que brotam da mente, como um “pintor” que vai jogando tintas numa tela branca para ter um resultado surpreendente. Construir, reformar, restaurar uma edificação traz grandes responsabilidades. E isso sempre foi assim, porque em priscas eras aplicavam a Lei de Talião para o construtor que viesse causar danos por acidentes de imperícia numa construção. Sem as severidades terríveis do passado, o fato é que ainda hoje existem leis que regulamentam as atividades nos âmbitos da Arquitetura e Engenharia, exigindo dos profissionais as responsabilidades civil e criminal pelos seus atos.
Imagem 01 - Vista geral da sacristia.
Projetar é o ato de conceber, planejar e detalhar a execução de algo que se quer. Geralmente no âmbito da Arquitetura e da Engenharia, o processo de projetar envolve uma série de etapas e de atividades que transformam a ideia inicial em um plano executável. Esse plano pode ser para a construção, reforma, restauração de edificações, desenvolvimento de produtos, criação de sistemas, entre tantas outras ações que se deseje empreender. Um projeto tem fases e atividades de planejamento, isto é, de sistematização que visa estabelecer objetivos e estratégias para se alcançar algo ou alguma coisa. Nesse contexto, a definição de metas, recursos e prazos é fundamental para se obter êxito. O processo de projetar não se restringe apenas à criação de um esboço ou à definição técnico-estética, mas engloba um conjunto complexo de estudos, análises, verificações e detalhamentos com vistas a assegurar a viabilidade, a segurança e a funcionalidade do projeto. A importância da elaboração de um projeto pode ser compreendida através de diversos aspectos que impactam diretamente o sucesso do empreendimento.
As fases de um projeto têm início na identificação das necessidades que exige entender o contexto onde vai se desenrolar e os respectivos objetivos; coleta de informações relevantes, normas regulamentadoras, condições do ambiente e dos recursos disponíveis são requisitos para se progredir e avançar para a fase de pesquisas e análises com vista a verificar a viabilidades técnica, econômica e legal do projeto; esboços e modelos conceituais e virtuais com desenhos iniciais, esboços e maquetes servem para explorar diferentes possibilidades de soluções; com um arcabouço delineado do contexto, deve-se partir para a fase de desenvolvimento do projeto propriamente dito, onde devem constar as seguintes etapas:
anteprojeto
projeto básico
projetos: executivo, abrangendo todos os aspectos arquitetônicos,
estruturais
elétricos
hidráulicos
tantos outros necessários, sendo tudo posto em detalhes
especificações
encargos executivos
planilhas de custos e preços
cronogramas
planos de ataque ou execução.
O projetar pode ser considerado uma arte antes de ser técnica e habilidade. Sendo um processo meticuloso que transforma ideias em realidade, garantindo que todos os aspectos de uma criação sejam cuidadosamente planejados, examinados em detalhes para serem executados. É uma atividade fundamental para o sucesso de qualquer empreendimento, assegurando eficiência e qualidade.
No âmbito da preservação do patrimônio cultural construído, observa-se que o processo de projetar e executar as ações de conservação e restauração dos monumentos históricos e artísticos tem um marco de organização oficial na década de 1940, logo após a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN, pelo Governo Federal, quando foram iniciadas inúmeras incursões de obras em edificações identificadas de valor histórico-artística. Daquela época, até o primeiro quarto da década de 1970, que ficou conhecida como “fase heroica” daquela Instituição, as intervenções eram realizadas a partir de investigações históricas, estimativas de alternativas e previsões de custos. Muitas obras arrastavam-se por longos períodos, pois os recursos financeiros dependiam das “sobras” de caixa do Tesouro Nacional no âmbito do Ministério da Educação e Cultura. Não havia projeto, no máximo eram realizados os desenhos de plantas e fachadas, ilustrados com fotografias. As decisões do que e como fazer ficavam centralizadas na sede central da Instituição, que ouvia as sugestões dos diretores regionais.
Foi com a implantação do Programa de Reconstrução das Cidades Históricas do Nordeste, depois conhecido como Programa de Cidades Históricas, criado pela Secretaria de Planejamento da Presidência da República – SEPLAN-PR, nos anos 70 do século passado, que surgiu a necessidade de elaboração de projetos para os estados e municípios obterem os recursos financeiros desse Programa. Projetos simplificados, constando das peças gráficas do levantamento arquitetônico com plantas, elevações, fachadas, detalhes técnico-construtivos; levantamento fotográfico; propostas de restauro e reformas; especificações técnicas e caderno de encargos; planilhas orçamentárias. Alguns desses projetos ficavam ao nível de projeto expedito ou simplificado, mas eficazes na resolução de problemas. Havia grande urgência pelo Governo Federal para o desenvolvimento do turismo nas cidades históricas do Nordeste. As instituições tinham de se apresentar ágeis na captação dos recursos e, portanto, o detalhamento dos projetos devia ficar ao nível básico para permitir respostas rápidas e eficientes às necessidades. Os detalhamentos eram elaborados quando iniciados os trabalhos, na fase dos serviços preliminares.
Só com a criação dos programas posteriores como o Monumenta e o PAC-Cidades Históricas, as exigências para se aprofundar os estudos e análises das edificações e localidades objetos eletivos para obtenção dos recursos financeiros ampliaram-se consideravelmente. Antes, projetos que ficavam prontos e aptos às licitações em prazos variáveis de três a seis meses, no máximo. No Monumenta, e particularmente no PAC, muito tempo ficou indispensável para se cumprir todas as exigências dos manuais de projetos e das rotinas de análises e aprovações. Muito raramente, um projeto é iniciado e concluído num prazo de 12 meses. O comum é se arrastar por anos, chegando alguns a sequer serem concluídos. Enquanto prevalece esse status quo, edificações anciãs, cada vez mais fragilizadas pelo tempo, decaem e se ‘desmancham” a espera de uma burocracia que se tem mostrado ineficaz nas respostas. Atualmente, exigem-se um profundo conhecimento da edificação aos níveis históricos, seja através investigações em documentações primárias e secundárias, seja pelas prospecções arquitetônico-arqueológicas e outras físico-químicas; o envolvimento de inúmeros profissionais nas áreas da arquitetura, engenharia, ciências aplicadas, economistas, designers, especialistas em obras de arte, restauradores e tutti quanti. A cada produto que se elabore nas diversas fases do projeto – conhecimento do bem, estudos preliminares, projeto básico e projeto executivo, tantos analistas são necessários para validarem ou não as produções, emitindo notas técnicas por vezes até sem lastro numa legislação, regulamentação ou recomendações de fulcro teórico, mas na interpretação pessoal daquilo que ele considera ser mais adequado à situação. Ocorre, inclusive, e não raramente, do produto de uma fase retornar à instituição responsável pela aprovação do projeto, e de o analista não ser mais o mesmo seja por motivo de férias ou de afastamento. Um outro analista estará de plantão, carregando possíveis maneiras diferentes de visão e, consequentemente, como novas exigências e modos de encarar as proposições apresentadas.
Imagem 2 - vista da sacristia com o piso, arcaz e forro.
As idas e vindas dessa burocracia, as discussões, as divergências de opiniões e soluções, até mesmo o despreparo dos profissionais envolvidos, em ambos os lados, nesse processo complexo, têm causado danos ao patrimônio. É necessário, é urgente que seja adotado um processo mais célere, sem perdas, com eficiência e com eficácia, ou seja, através da combinação de se fazer as coisas da melhor maneira possível (eficiência), garantindo que ações corretas conduzam ao alcance dos objetivos desejados (eficácia). Este equilíbrio é crucial para se obter a excelência operacional e o sucesso sustentável.
Assim, para se formular um contexto favorável, propõe-se que seja adotada e aceita a elaboração de projetos expeditos ou simplificados para os casos onde existam necessidade de se resolver problemas urgentes, como intervenções emergenciais, adaptações indispensáveis ou soluções de melhoramento funcional. Um projeto expedito, simplificado, pode fornecer respostas rápidas e eficazes em casos onde os recursos financeiros e humanos são limitados, permitindo que o essencial seja abordado sem os custos elevados associados a um projeto completo. Para intervenções de pequena escala, conservação e restauro de componentes e elementos construtivos e artísticos em riscos, pequenas reformas ou melhorias necessárias, um projeto simplificado pode ser mais do que suficiente, porque a complexidade e o nível de detalhes necessários são muito menores, tornando o processo mais rápido e menos oneroso.
Outro ponto a favor, são as interações mais rápidas com os poucos agentes envolvidos na elaboração, análise e aprovação. Evidentemente que, os projetos expeditos ou simplificados podem não ser adequados para problemas que envolvam alta complexidade técnica ou que exijam uma análise detalhada e coordenação entre múltiplas disciplinas. Nesses casos, a falta de detalhamento pode resultar em falhas ou problemas não previstos. Há projetos que precisam cumprir rigorosos requisitos legais e normativos, e, aí, um projeto simplificado pode não fornecer a documentação e os detalhes necessários à aprovação pelos órgãos competentes. Isso pode levar a atrasos ou a necessidade de revisões mais completas posteriormente. Uma alternativa viável para se contornar determinadas situações é de se colocar os estudos e as investigações mais aprofundados para a etapa preliminar das intervenções, das obras ou dos serviços, abrindo as possibilidades para as alocações dos recursos financeiros antes que eles possam ser perdidos ou desviados para outras ações.
Listam-se algumas estratégias para se potencializar a eficácia de projetos expeditos ou simplificados.
Primeiro, deve-se definir claramente o escopo e os objetivos do que se pretende, para se garantir que ele seja eficaz. Isso inclui identificar as principais prioridades e focar nas soluções. Pode-se, conforme mostra um exemplo apresentado a seguir, conter:
(a) resumo histórico,
(b) objetivos,
(c) justificativas,
(d) estado de conservação,
(e) proposta de intervenção,
(f) memorial,
(g) especificações técnicas,
(h) caderno de encargos,
(i) planilhas de custos e preços/cronogramas.
Segundo, deve ser elaborado por profissionais experientes que possam identificar e tomar decisões com lastro em conhecimento e expertise, podendo compensar a falta de detalhamento, assegurando que as soluções sejam práticas e eficazes.
Terceiro, capacidade de feedback e ajustes, permitindo o projeto avançar, especialmente em contextos de iteração rápida, onde as soluções possam ser refinadas continuamente.
Imagem 3 - Projeto simplificado da sacristia
Concluindo, os projetos expeditos ou simplificados podem ser muito eficazes na resolução de problemas, especialmente quando a rapidez e a agilidade são cruciais. Não se pode deixar uma edificação de grande valor histórico, artístico e emocional para uma comunidade à mercê de protocolos e instruções normativas rígidas. Mesmo porque, no passado, essa conduta foi amplamente utilizada, possibilitando o salvamento de muitas edificações que hoje fazem parte do nosso patrimônio. É certo, sem dúvidas, que a eficácia na aplicabilidade depende de avaliação cuidadosa do contexto, da natureza do problema e das limitações específicas de cada situação, de cada projeto. Quando examinado com clareza o escopo e o envolvimento de profissionais expertos, esses projetos podem fornecer soluções práticas e eficientes, cumprindo seu papel de maneira satisfatória.
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